quarta-feira, 18 de agosto de 2010


Vai, pode ir. Estou te dando a liberdade.
A Santa, que foi perdida em meio à tantos sentimentos calados.
A liberdade invejada, almejada. Abra os braços, grite. Festeje aquilo que lhe foi tirado de maneira estúpida.
Sei que nunca te possui, pois a vontade de fuga sempre foi maior do que qualquer sentimento habitante desse medíocre coração.
Saia correndo debaixo dessa chuva. Jogue tudo pro alto, perca a estribeira, afinal, nada é mais importante do que a liberdade.
Bata as asas como se fosse uma borboleta que acabara de sair de um casulo pequeno e frágil. Amor se tem por aquilo que é conquistado, e consequentemente você não me conquistou. Eu a conquistei e por ti, tenho amor. A vida é passageira, e o amor pode até ser inacabável, mas não, incansável. Eu cansei, de verdade.
Agora, só queria mesmo poder te colocar dentro de um pote, e queria também, sentar ali, naquela calçada e choramingar feito criança. Mas não posso, tenho de pensar que ainda sou e serei forte. Tenho de me acalmar, parar de chorar - e de soluçar.
Odeio despedidas, e hoje, estou me sentindo como se fosse apenas um casulo vazio, cinza e sem serventia, vendo você, minha borboleta, indo embora, à procura de flores coloridas e cheirosas.
Solitária, porém, muito amada. Sozinha, alegre e admirada. Um pé, com um número mágico, sem calçado. Tão Cinderela voadora, tão rainha, sem trono, mas cheia de súditos... e coroas.
Bela e livre, tão livre que não se pode ser trancafiada, nem pelo amor, nem por mim, nem por ninguém, seu mundo é o céu. Bailarina dos ares.
Carrasca do coração. Alimento dos olhos.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010


Arrepender-se:
v. pron.
1. Ter arrependimento.
2. Mudar de tenção.
3. Desdizer-se.

Arrependimento: Nada mais do que querer voltar atrás, seja numa atitude tomada, numa palavra dita, ou até mesmo numa escolha feita.
A vida inteira se baseia em escolhas, e as escolhas nada mais são, do que riscos que corremos. E cada escolha que decidimos, traz na bagagem uma renúncia. As escolhas na maioria das vezes são incertas. Você escolhe virar a próxima à direita, mas não sabe o que o espera alí. Se for algo ruim, com certeza você se arrependerá de ter virado naquela esquina, e não na próxima, ou na anterior.
Arrependimento é o oposto do "dar certo". Se a sua escolha foi boa, você jamais se arrependerá. Se ela foi ruim, você se arrependerá para o resto da vida, não é?
Arrependimento é contradição, é incoerência. Você só se arrepende porque as coisas não saíram do jeito que você planejava. Se tudo tivesse dado certo, você não ia querer andar pra trás, e como tudo deu errado, você está aqui, mais uma vez. Arrependimento é um sentimento um tanto quanto esquisito e egoísta. Você só se arrepende porque doeu em você, não se arrepende porque aquela escolha machucou e fez doer em alguém. Se não tivesse doído tanto em você, óbviamente você não se importaria em ter deixado alguém sangrando.
Arrependimento é vergonhoso, e não mata. Porque se ele realmente matasse, garanto que muitas pessoas não se arrependeriam das escolhas que fizeram ao longo da vida.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Garrafas, copos, corpos vazios. Mentes cheias. Chegaí, mais uma sexta-feira. Os problemas aparentemente desaparecem, ou são simplesmente máscarados diante de sorrisos falsos e pessoas estranhas que se dizem amigas, naquele momento.
Sucumbimos a praticamente todos os pecados. Nos deixamos igualar àqueles que julgávamos serem inferiores à nós mesmos.
Mal dormimos, mal acordamos, vemos o sol raiar intactos diante de ruas que dormem. Acordamos, quando ele já se foi. A cabeça pesa mais do que o coração sempre pesou. A ressaca vem, a fisiológica e também a moral. Chegamos reis, saímos súditos. Pobres, medíocres, podres. Do luxo ao lixo em menos de 12 horas. Mandamos pra dentro de nós aquilo que é chamado de escória. Tudo para parecermos mais normais do que certamente somos.
Felicidade fajuta. Acabam-se os mangos, e nem aguentamos mais as músicas. Olhar pra cara das mesmas pessoas rodando torna-se uma tortura. A cama nos quer, mas só a queremos depois que já não suportamos mais a dor dos nós pés dentro daqueles saltos imensos. Tudo lateja, tudo rapidamente amortece. A voz daquela cantora irritante que ninguém mais se sente feliz em ouvir todos os dias em todas as estações de rádio, ou todos os finais de semana em quase todas as baladas, torna-se uma lullaby naquele instante. Fingimos tão bem. Somos ali, amigáveis, sociáveis, simpáticos, amorosos, interessantes. Mas também somos interesseiros. Amigos são aqueles que dividem com nós, todos os copos, as bitucas, as pontas, os ratas.
Não mais importa se não nos lembramos dos nomes, ou até mesmo das faces daqueles que já passaram por ali, nos importa mesmo, aqueles outros que nos reconhecem.
O perfume vence, o bafo chega, os olhos se apagam diante de tanta futilidade misturada com outros adjetivos ruins. Não queremos mais luzes acesas. O escuro, o porão, o inferno é a nossa casa. Mais importante é ser aceito por aquele grupinho de pessoas populares e um tanto quanto imbecís, do que por aqueles que possuem algo de bom no coração.
Estamos aqui, com o intuito de enlouquecer de forma não saudável para que possamos esquecer dos problemas que possivelmente foram largados em casa.
A felicidade instantânea e enganadora só acaba quando a última estrela estiver apagada.
Até então, somos pecinhas de um jogo torpe, fingindo termos a moral que já foi há muito tempo.
Qualquer buraco torna-se um paraíso perdido. Não nos culpamos por ter deixado em casa, as pessoas que possivelmente mais nos amam. São velhas, caretas, quadradas. A rua será sempre mais atraente do que o nosso quarto aconchegante com uma cama limpinha. A sujeira nos chama. Deus ali, certamente não habita. Mas na real, quem liga? A consciência não pesa, somos meras pessoas sortudas que nasceram sem esse dom. O suor respinga e talvez até se misture com o gosto amargo das bebidas mais cobiçadas. O empurra-empurra não atrapalha, e os esbarrões servem para testar nossa habilidade em cima daquele XV.
O lugar esvazia, as músicas pioram, as pessoas cansadas mais do que um dia puderam imaginar que ficariam vão embora. A moça do caixa já boceja, o primeiro raio solar desenha-se no céu. O táxi já espera aqueles que ainda possuem um pingo de amor à vida. Os carros estacionados já estão com os vidros cheios de sereno. Os alarmes apitam. Nós queremos chegar vivos em casa, mas nem sempre isso acontece...
Chegamos, abrimos a porta e damos de cara com os problemas sentados na sala nos esperando. E nem são nossos pais, porque esses, ah, esses já desistiram há tempos... A fé depositada é a mesma que se esvaiu. Achamos que os problemas já tinham ido dormir, para aparecerem somente no domingo de manhã, mas não. Eles nos perseguem como espíritos incansáveis e abandonados, sem saber que somos apenas ratos, voltando para nossas tocas.