quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Um milhão de seres. Um milhão de seres sozinhos.
Seres vivendo numa busca constante de algo que talvez já esteja extinto.
Um milhão de seres que ajoelham e pedem milagres em vez de pedir perdão. Um milhão de seres alienados vivendo em função
de uma ansiedade insana. Um milhão de seres que desejam ter o coração arrancado. Seres cheios e ao mesmo tempo vazios.
Seres que choram sem motivos, e ainda sim, sorriem da falta de motivos. Seres que viraram robôs diante de tantas situações
inusitadas. Procuram respostas sem antes fazerem as perguntas. Gelados, feitos flocos de neve. Seres que pulsam e respiram
sem notar que outros seres também fazem as mesmas coisas. Tentam ser diferentes, quando na verdade não passam de cópias xerocadas.
Perderam a personalidade, tentando serem seres notáveis e agradáveis. Cumprem ordens, chegam tarde, pensam que possuem
regras, quando levam uma vida desregrada. Se escondem, mentem, são só seres sem consciência.
Seres buscando o amor e a perfeição. Acham que merecem, quando na verdade, ganham tudo por gratidão de outros seres.
Seres que erram, não aprendem e cometem os mesmos erros mais adiante. Seres que se acham melhores que outros seres. Seres racistas,
preconceituosos, fúteis, inúteis, hipócritas. Seres que se acham inteligentes e não aprendem que a nossa raça é a única que se
preocupa em criar guerras.  Não procuram evolução, aplaudem em pé, as obras de seres mais evoluídos.
Seres vivendo sem esperança, feito zumbis, seres escrotos que nasceram pra fingir, e assim, cumprem sua missão vazia.
Lembro-me perfeitamente do dia ensolarado em que eu te encontrei. Já faz algum tempo, eu sei. Eu sei que talvez, eu devesse mais do que simplesmente esquecer tais datas, mas pretendo ficar em débito com os sentimentos restados, simplesmente porque não consigo sequer me desfazer de algumas lembranças sólidas, imagine se conseguiria então, me desfazer das pequenas lembranças... Enfim. Lembro-me SIM, daquele dia quente de fevereiro. Naquele instante, pra mim, ele já não estava mais quente. Eu sentia frio, um frio ali, na espinha, e outro na barriga. O motivo? Eu estava rumando ao seu encontro. Sim, aqueles encontros pelos quais, eu esperava, e sofria tanto. A saudade batia e doía, como nunca! Eu não ligava, sabia que mais dia, ou menos dia, você voltaria. E voltou, naquele dia. Contei cada milésimo de segundo daquela semana, e ela havia passado tão devagar, mas naquela hora, daquele dia, eu já não me recordava mais disso.
Cheguei, para te ver, onde você já me esperava, com uma sacola meio verde numa das mãos, e como de costume, um cigarro noutra. Naquele momento, meu sorriso se abriu tão sincero, quanto o de uma criança que acabara de abrir o único presente deixado debaixo da árvore de Natal. Dentro daquela sacola verde, havia um botão de rosa. Uma botão de rosa vermelha. Eu já tinha ganhado tantos buquês ao longo da minha vida, que olhando por um ângulo, um botão de rosa semi vivo não faria tanta diferença assim... Mas fez.
Os outros buquês enormes, volumosos e vermelhos feito sangue, não fizeram tanto sentido, quanto aquele botão de rosa vermelha solitária fez.
Ele ali, significava o momento do nascimento do nosso amor. Sem nenhum motivo, razão ou circunstância. Sem nenhuma consistência, ou sentido. Sem nenhuma outra intenção, a não ser a intenção de simplesmente ser e ser (quase que) pra sempre.
Marcou o ínicio, o meio e o fim de uma história não tão bonita quanto às histórias dos filmes, mas uma história que foi tão singela, e verdadeira quanto àquele botão de rosa.
Ele tava pequenininho, nascendo e lutando para crescer, assim como nossos sentimentos (quase que) recíprocos. Mas como qualquer botão de rosa, o nosso amor também necessitava de mais do que amor para crescer. Reguei da melhor forma que eu pude, tanto o amor, quanto o botão. Eles cresceram, vingaram, desabrocharam. O botão virou uma rosa exuberante, que se sobressaía diante de qualquer outra flôr nos jardins. Assim como o nosso amor. Passou-se o tempo, a rosa resistiu, e o nosso amor também.
Mas um dia, assim como todas as pessoas e tudo que nesse mundo é considerado vivo, a rosa morreu.
Apodreceu, secou e ficou totalmente sem cor, assim como, de novo, o nosso amor.
Procurei o meu erro, o seu erro, os nossos erros, procurei os motivos, as razões e até as circunstâncias pelas quais, deixei escapar por entre os dedos, os sentimentos mais sinceros, que um dia, eu já havia possuído. Mas não achei. Sofri calada, sozinha, e abandonada, feito àquela rosa seca, que agora, não habitava mais nem os belos jardins, nem os belos vasos. Fazia morada dentro de um livro velho e desinteressante.