segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Ainda estava naquele banho tentando entender tudo o que se passava nessa imensidão de sentimentos que ali habitavam.
O cheiro dos sabonetes se misturavam com o cheiro dos meus cabelos sujos, e com o cheiro da minha então, exposta bipolaridade que eu costumava chamar de oscilação entre primavera e outono.
Por mais uma vez, eu estava ali, exposta naquela banheira onde a água já não era mais tão acolhedora idêntica ao que a minha vida tinha se tornado.
Incrível como eu não acolhia mais nada - nem ninguém -. Tudo não passava de uma bela porcaria, mas eu nunca fui da turma dos que negavam fogo, decidi que a partir dali, negaria. E sempre. Eu estava na época em que denominava outono, mesmo estando na primavera. Entender, compreender. Era tudo tão difícil, e eu sequer sabia o porquê.
Queria talvez enfiar a minha cabeça debaixo d'água, mesmo não querendo lavar os cabelos, e tentar aspirar o máximo que conseguiria, até sentir os dois lados do pulmão se estourar feito uma bexiga de festa infantil. Mas isso era somente um talvez, pois eu sabia que a única certeza que tinha desde o bendito (mal) dia em que nasci, era a morte. Tão assustadora quanto a escuridão que eu sempre, sempre e sempre temi. Tão acolhedora e tão boazinha, pois somente nos polpava de sofrimentos que nunca, "nunquinha" mesmo, já havia humanizado alguém. Viajando entre pensamentos e linhas confusas das palmãos das minhas mãos enrugadas, pude reparar em quanto as pessoas más já sofreram para se tornerem más, e enquanto as pessoas boas tiveram uma boa raíz para vingarem feito heróis-sem-capa-do-contemporâneo. Isso me dava ânsia, e pela ânsia, quase vomitei tudo de mau que havia ingerido naquele mesmo dia - e naquela mesma noite -. Ah, não eram mais os mesmos dias, e nem as mesmas noites! Não eram, e eu nem sabia ao certo se sentia ou não, falta daquela vidinha medíocre que eu levava há uns 8 meses antes.
E falando nessa quase gestação, ou nesse quase parto, também pude reparar e agradecer por ter passado por pelo menos 30 banheiras diferentes, por no mínimo também, 30 quartos diferentes, e já não interessava com quantas pessoas diferentes eu já tinha visto o sol nascer nesse quase parto. Quase. Palavra incoerente e enganosa. Quer expressar tanto, mas não expressa nada além do fracasso de não ter conseguido algo.
Quase casei. Quase namorei. Quase gozei. Quase perdi a virgindade. Quase amei. É, a minha vida não saía do quase, mesmo quando eu era uma outra pessoa. Naquela altura do campeonato, eu já não sabia o que me trazia mais prazer, eu não sabia o que me fazia sorrir, e eu não sabia se eu devia esperar até os 48 minutos, ou se eu devia entregar o jogo aos 45. Pois a minha consciência só conseguia gritar que eu quase tinha feito um gol. Eu tinha tantos personagens, tantor sobrenomes, mas nenhum era mais forte do que eu mesma, e essa eu mesma, era tão fraca quanto um galho seco de uma árvore qualquer. Sei que não iria conseguir gerar mais nada de bom, mesmo enquanto me regassem, porque o quase era tudo (ou nada) que eu tinha...

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